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@@ -1165,3 +1165,212 @@ desagradáveis mencionadas na edição anterior ou mesmo em manuais de outras
possível que sempre tenha havido “neuroses”. Mas as “neuroses” que vemos hoje
por toda parte são uma forma histórica específica de conflito que precisa de
uma elucidação psicogenética e sociogenética.
### Estágios
No estágio da aristocracia de corte, as restrições impostas às inclinações e
emoções baseavam-se principalmente em consideração e respeito devidos a outras
pessoas e, acima de tudo, aos superiores sociais. No estágio subsequente, a
renúncia e o controle de impulsos são muito menos determinados por pessoas
particulares. Expressadas provisória e aproximativamente, nesse instante, mais
diretamente do que antes, são as compulsões menos visíveis e mais impessoais da
interdependência social, a divisão do trabalho, o mercado, a competição, que
impõem restrições e controle aos impulsos e emoções. São essas pressões, e os
correspondentes tipos de explicação e condicionamento acima mencionados, que
fazem parecer que o comportamento socialmente desejável seja gerado
voluntariamente pelo próprio indivíduo, por sua própria iniciativa. Isto se
aplica à regulação e às restrições de impulsos necessárias ao “trabalho”, e
também a todo padrão de acordo com o qual eles são modelados nas sociedades
industrializadas burguesas.
[...]
Em ambos os casos, na sociedade aristocrática da corte e nas sociedades
burguesas dos séculos XIX e XX, as classes superiores são socialmente
controladas em escala particularmente alta. O papel fundamental desempenhado
por essa crescente dependência das classes superiores, como mola propulsora da
civilização, será demonstrado adiante.
[...]
Tabus e restrições de vários tipos acompanham a expectoração de catarro, como
de outras funções corporais, em muitas sociedades, tanto “primitivas” como
“civilizadas”. O que as distingue é o fato de que, nas primeiras, eles são
sempre mantidos por medo de outras pessoas, ou seres, mesmo que imaginários —
isto é, por controles externos — ao passo que, nas últimas, são transformados
mais ou menos completamente em controles internos. As tendências proibidas (por
exemplo, a tendência para escarrar) desaparecem em parte da consciência, sob
pressão desse controle interno, ou, como poderia ser também chamado, do
superego e do “hábito de previsão”. O que sobra na consciência como motivação
da ansiedade é alguma consideração de longo prazo. Assim, em nossa época o medo
de escarrar, e os sentimentos de vergonha e repugnância nos quais isto se
expressa, concentram-se na ideia mais precisamente definida e logicamente
compreensível de certas doenças e suas “causas”, e não em torno da imagem de
influências mágicas, deuses, espíritos, ou demônios. Mas a série de exemplos
mostra também com grande clareza que a compreensão racional das origens de
certas doenças, do perigo do esputo como transmissor, não é a causa primária do
medo e da repugnância nem a mola propulsora da civilização, a força por trás
das mudanças no comportamento no tocante ao hábito de escarrar.
[...]
Vale a pena deixar esclarecido, de uma vez por todas, que algo que sabemos ser
prejudicial à saúde de maneira alguma desperta necessariamente sentimentos de
desagrado ou vergonha. E, reciprocamente, algo que desperta esses sentimentos
não tem que ser prejudicial à saúde. Alguém que coma hoje barulhentamente ou
com as mãos provoca profundo desagrado, mas sem que haja o menor receio pela
saúde. E nem a ideia de ler com má iluminação nem a de gás venenoso, por
exemplo, despertam sentimentos de desagrado ou vergonha remotamente
semelhantes, embora sejam óbvias suas más consequências para a saúde. Desta
maneira, o nojo da expectoração, e os tabus que a cercam, aumentam muito antes
que as pessoas tenham uma ideia clara da transmissão de certas doenças pelo
escarro. O que inicialmente prova e agrava os sentimentos de nojo e as
restrições é a transformação das relações e dependência humanas.
[...]
A motivação fundada na consideração social surge muito antes da motivação por
conhecimento científico. O rei, como “sinal de respeito”, exige esse
comportamento de seus cortesãos. Nos círculos da corte, este sinal da
dependência em que ela vive, a crescente compulsão para controlar-se e
moderar-se torna-se uma “marca de distinção” a mais, que é imediatamente
imitada abaixo e difundida com a ascensão de classes mais numerosas. E aqui,
como nas precedentes curvas de civilização, a admoestação “Isso não se faz”,
com a qual a moderação, o medo e a repugnância são inculcados, só muito depois
é ligada, como resultado de certa “democratização”, a uma teoria científica,
com um argumento que se aplica por igual a todos os homens, qualquer que seja
sua posição ou status. O impulso primário a essa lenta repressão de uma
inclinação que antes era forte e geral não vem da compreensão racional das
causas das doenças, mas — conforme será discutido em detalhe mais adiante — de
mudanças na maneira como as pessoas vivem juntas na estrutura da sociedade.
4. A modificação de hábito de escarrar e, finalmente, a eliminação mais ou
menos completa de sua necessidade constitui um bom exemplo da maleabilidade da
vida psíquica. Pode ser que essa necessidade tenha sido compensada por outras
(como, por exemplo, a necessidade de fumar) ou debilitada por certas mudanças
na dieta. Mas é certo que o grau de supressão que se tornou possível neste caso
não aconteceu no tocante a muitas outras inclinações. A tendência a escarrar,
como a de examinar o esputo, mencionada nesses exemplos, é substituível. Ela se
manifesta agora apenas em crianças e em análise de sonhos, e sua eliminação é
vista no riso específico que nos sacode quando “essas coisas” são mencionadas
abertamente.
Outras necessidades não são tão substituíveis ou maleáveis na mesma extensão. E
isto coloca a questão do limite da transformabilidade da personalidade humana.
Sem dúvida ela é submissa a certas fidelidades que podem ser chamadas
“naturais”. O processo histórico modifica-a dentro desses limites. O grau em
que a vida e o comportamento humanos podem ser moldados por processos
históricos não foi ainda analisado em suficiente detalhe. De qualquer modo,
tudo isso mostra, mais uma vez, como processos naturais e históricos se
influenciam mútua e inseparavelmente. A formação de sentimentos de vergonha e
asco e os avanços no patamar da delicadeza são simultaneamente processos
naturais e históricos. Essas formas de emoções são manifestações da natureza
humana em condições sociais específicas e reagem, por sua vez, sobre o processo
sócio-histórico como um de seus elementos.
É difícil concluir se a oposição radical entre “civilização” e “natureza” é
mais do que uma expressão das tensões da própria psique “civilizada”, de um
desequilíbrio específico na vida psíquica gerado no estágio recente da
civilização ocidental. De qualquer modo, a vida psíquica de povos “primitivos”
não é menos historicamente (isto é, socialmente) marcada do que a dos povos
“civilizados”, mesmo que os primeiros mal estejam conscientes de sua própria
história. Não há um ponto zero na historicidade do desenvolvimento humano, da
mesma forma que não o há na socialidade, na interdependência social dos homens.
Nos povos “primitivos” e “civilizados”, observam-se as mesmas proibições e
restrições socialmente induzidas juntamente com suas equivalentes psíquicas,
socialmente induzidas: ansiedades, prazer a aversão, desagrado e deleite. No
mínimo, por conseguinte, não é muito claro o que se tem em vista quando o
chamado padrão primitivo é oposto, como “natural”, ao “civilizado”, como social
e histórico. No que interessa às funções psíquicas do homem, processos naturais
e históricos trabalham indissoluvelmente juntos.
### Fundo da vida social
Tal como a maior parte das demais funções corporais, o sono foi sendo
transferido para o fundo da vida social. [...] Suas paredes visíveis e
invisíveis vedam os aspectos mais “privados”, “íntimos”, irrepreensivelmente
“animais” da existência humana, à vista de outras pessoas.
[...]
Uma camisola especial começou a ser adotada lentamente, mais ou menos na
ocasião em que acontecia o mesmo com o garfo e o lenço. Tal como outros
“implementos de civilização”, espalhou-se de forma bem gradual pela Europa. E,
como eles, era símbolo de uma mudança decisiva que ocorria nessa época nos
seres humanos. Aumentava a sensibilidade com tudo aquilo que entrava em contato
com o corpo. A vergonha passou a acompanhar formas de comportamento que antes
haviam estado livres desse sentimento.
[...]
Neste particular, também, houve certa reação e relaxação desde a guerra. Isto
esteve claramente ligado à crescente mobilidade da sociedade, à difusão dos
esportes, a excursões e viagens, e também à separação relativamente cedo dos
jovens da comunidade familiar. A transição da camisola para o pijama — isto é,
para um trajo de dormir mais “socialmente apresentável” — constitui um sintoma
desta situação. A mudança não é, como se pensa algumas vezes, apenas um
movimento de retrogressão, uma diminuição dos sentimentos de vergonha ou
delicadeza ou, quem sabe, uma liberação e descontrole de ânsias instintivas,
mas o desenvolvimento de uma forma que se ajusta a nosso padrão avançado de
delicadeza e da situação específica em que a atual vida social coloca o
indivíduo.
[...]
As roupas de dormir da fase precedente despertavam sentimentos de vergonha e
embaraço exatamente porque eram relativamente informes. Não havia intenção de
que fossem vistas por pessoa fora do círculo familiar.
### Ansiedades pelo condicionamento
“Se for forçado por necessidade inevitável a dividir a cama com outra pessoa…
em uma viagem, não é correto ficar tão perto dele que o perturbe ou mesmo o
toque”, escreve La Salle (Exemplo D) e: “Você não deve nem se despir nem ir
para a cama na presença de qualquer outra pessoa.”
Na edição de 1774, os detalhes são mais uma vez evitados em todos os casos
possíveis. E o tom é visivelmente mais severo: “Se for forçado a dividir a cama
com uma pessoa do mesmo sexo, o que raramente acontece, deve manter um rigoroso
e vigilante recato” (Exemplo E). Este é o tom da injunção moral. Até mesmo dar
uma razão tornou-se penoso para o adulto. Pela ameaça do tom, a criança é
levada a associar essa situação a perigo. Quanto mais o padrão “natural” de
delicadeza e vergonha parece aos adultos e quanto mais o controle civilizado de
ânsias instintivas é aceito como natural, mais incompreensível se torna para os
adultos que as crianças não sintam “por natureza” esta delicadeza e vergonha.
Necessariamente as crianças tocam repetidamente o patamar adulto de embaraço e
— uma vez que não estão ainda adaptadas — transgridem os tabus da sociedade,
cruzam o patamar adulto de vergonha, e penetram em zonas de perigo emocionais
que o próprio adulto só com dificuldade consegue controlar. Nesta situação, o
adulto não explica as exigências que faz em matéria de comportamento. Não tem
como fazê-lo adequadamente. Está tão condicionado que se conforma de maneira
mais ou menos automática a um padrão social. Qualquer outro comportamento,
qualquer desobediência às proibições ou restrições que prevalecem em sua
sociedade, implica perigo e uma desvalorização das restrições que ele mesmo se
impõe. A conotação peculiarmente emocional tão amiúde ligada a exigências
morais, à severidade agressiva e ameaçadora com que são frequentemente
defendidas, refletem a ameaça que qualquer desafio às proibições representa
para o equilíbrio instável de todos aqueles a cujos olhos o padrão de
comportamento da sociedade se tornou mais ou menos uma “segunda natureza”.
Essas atitudes são sintomas da ansiedade despertada nos adultos em todos os
casos em que a estrutura de sua própria vida instintiva, e com ela sua própria
existência social e ordem social onde se radica, é, mesmo remotamente,
ameaçada.
[...]
a parede entre pessoas, a reserva, a barreira emocional erigida pelo
condicionamento entre um corpo e outro cresceram sem cessar. Desde cedo as
crianças são treinadas nesse isolamento dos demais, com todos os hábitos e
experiências que isto traz.
[...]
Com uma certa impotência, o observador do século XIX e, até certo ponto, do
século XX, vê-se diante de modelos e regras de condicionamento do passado. E
até que compreendamos que nosso próprio patamar de repugnância, nossa própria
estrutura de sentimentos, evoluíram — em um processo estruturado — e seguem
evoluindo, continua realmente quase incompreensível, do atual ponto de vista,
como diálogos como esses pudessem ser incluídos em um livro escolar ou
deliberadamente produzidos como material de leitura para crianças. Mas esta é
exatamente a razão por que nosso próprio padrão, incluindo nossa atitude em
relação às crianças, deve ser compreendido como algo que evoluiu.
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